segunda-feira, março 23, 2009
Rádio cabeça
Uma das coisas mais legais em shows de rock é que você realmente curte a música. Gente como eu, que fala pra caralho, acaba sendo obrigada a ouvir e dançar, sem conversa, várias faixas seguidas. Não se vai a um show querendo tagarelar, né? Pra isso, você encontra as pessoas num barzinho que sai - beeeem - mais barato. Tudo isso, pra dizer que é nesses momentos de puro mergulho na música durante um show que você descobre nuanças e passagens ainda não percebidas na canção.
Gosto muito de misturar o gosto por bandas de diferentes épocas. Junto com os guitarristas shred da escola Van Halen e sua objetividade de explorar todas as possibilidades da guitarra do ponto de vista da velocidade e técnica, também curto um 'experimentalismo viajandão' de colagens e instrumentos bem-tocados como King Crimson ou até Pink Floyd.
Quando quero ouvir mensagem, letra, recorro aos brasileiros. Muito bons nisso, por sinal. Caetano, Moska, Baleiro. Ixi, a lista é longa...
Ocorre que alguns me proporcionam duas e até três dessas possibilidades ao mesmo tempo. Frank Zappa, por exemplo. Instrumentistas de primeira, composições inteligentes e mensagens criativas nas letras.
Saltos à frente, chego em Radiohead. Parece-me, à primeira vista, das mais modernas que aliam essas coisas em sua obra. Moderna porque essa é de fato uma característica da banda. Enraizada e que não se dissipa nem mesmo ao longo de 15 anos de estrada. Em outras palavras, continuar moderno depois de década e meia é pra poucos.
Em tempos de crise, não consegui ir ao show da banda em São Paulo e por isso no domingo, na hora marcada, estava eu em frente a TV, sintonizada no Multishow, à espera dos caras.
Nos primeiros 15 minutos de show eu já me perguntava porque não me esforcei com mais afinco para estar naquela platéia. A faixa de abertura do show, presente no último disco dos caras, In Rainbows, já causou o autoquestionamento. Caralho! O disco, que por sinal é 80% do repertório dos shows, é fantástico. Por que diabos eu não fiz aquela forcinha extra?
A segunda música afugentou o pensamento incômodo e continuei observando os detalhes daquela catarse musical. Lindo. Melodioso, diferente, criativo. Rock and roll.
Moderno. Parece que foi esses dias que ouvi o riff matador de Creep e meses depois - e pulando um disco - me deparei com as melodias intrincadas e as texturas tecnológicas de OK Computer. Mas faz mutio tempo. E ainda continua bacana. Lembro que na época gostei tanto e li que era um álbum conceitual, baseado no Guia do Mochileiro das Galáxias. Corri para ler a ficção inglesa - por sinal, bem engraçada. Depois de um tempo, passei a achar o disco monótono.
Por ocasião do lançamento de In Rainbows, passei a orelha de novo no Ok computer e - confesso - não me empolguei tanto.
Vendo o show do Radiohead pela TV compreendi que é o mais autêntico trabalho da banda. É simplesmente o momento em que o Radiohead é mais Radiohead. Mas os outros discos também são bons.
Constatado isso, me consolei com a idéia de "pelo menos assistir pela TV" e nessa hora lembrei do camarada Hamilton. O impulso de tagarelar é mesmo irresistível.
"Tá assistindo ao show do Radiohead pela TV, né?", escrevi no torpedo, porque tinha mesmo de comentar com alguém como aquilo tava bom.
"Yeah! Tá bonito pra cacete", foi a resposta que chegou quando o celular vibrou no ritmo conforme a música.
Tive mesmo de responder: 'Tá bem legal. Devia ter vendido um órgão para ir a esse show"
"Concordo! Também estou arrependido de não ter ido", ele respondeu.
O consolo de ver pela TV foi subitamente interrompido pelo Multishow, que somente transmitiu a primeira hora do concerto. Politica e negócios não deviam afetar o entretenimento, mas bem-vindo à indústria cultural. Por que então não transmitiram a partir da segunda hora? Quando o show está quente, quando tudo está mais embalado. Quando a banda 'libera' aquelas músicas que você quer ouvir? Paciência.
O jeito é esperar o próximo show dos caras por aqui. O consolo, esse sim, verdadeiro, é saber que eles continuarão modernos, mesmo que esse show seja daqui a 10 anos.
P.S.: Voltar de férias no blog com um post de resenha de show ao qual não se assistiu é de foder, eu admito. Façamos o seguinte, então, vamos ouvir "Fake Plastic Trees", uma das que o Multishow fez o favor de NÃO transmitir e viva ao Youtube...
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4 comentários:
É isso aí meu caro! E interessante que na falta de adjetivo ou rótulo pra enquadrar o som deles só nos resta mesmo o "moderno", que é a definição mais próxima da sensação de ouvir algo novo e que parece que vai continuar sendo novo por muito tempo!
E o corte do multishow foi mesmo irritante...
abraços
Fala Heverton, já tava com saudades dos seus textos.
me desculpe, mas não compartilho sua opinião dessa vez. Mas fazer o quê? Gosto musical é foda hehehehe
Ah, meu velho amigo, vc precisa abrir a mente para novas sonoridades.
O hard rock é bão, mas existe música além dele.
Tudo bem que já disseram que merda não é bom e por isso "um milhão de moscas não podem estar erradas"
Mas os caras são foda. Tá no youtube... veja, ouça e nem precisa me dizer o que achar...ahahaha
Abraço
"ôO cara tossiu... ôO cara tossiu"
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