quinta-feira, julho 31, 2008

O que é a felicidade pra você?


Noutro dia falava sobre o filme À Procura da Felicidade, com Will Smith, com um amigo, que se saiu com um comentário. “Pra ele a felicidade é como é pra mim, tá no dinheiro”, brincou, ironizando a incansável busca de Christopher Gardner por um bom emprego. A película é baseada em fatos reais e é claro que a mensagem do filme vai além desse materialismo. O personagem precisa de um emprego pra manter a guarda do filho, esse sim, o sentido da felicidade para ele. Comecei a pensar sobre a felicidade e me às voltas com a pergunta título desse post...

De bate e pronto posso dizer que são pequenos momentos, nos quais me sinto completo, alegre, forte, capaz. Puxa, o nascimento da minha filha foi um grande momento de felicidade... Mais um daqueles em que você tem realmente prazer de viver...

O mais curioso é que nem sempre você está fazendo algo necessariamente “engrandecedor” ou nobre, mas se sente feliz. É como um coveiro, que apesar de estar jogando a terra sobre o caixão alheio, num momento de muita tristeza para familiares, o faz em meio a assobios. Não se trata de prazer na desgraça do outro, mas sim de estar bem consigo mesmo.

Tenho pensado cada vez mais que essa tal felicidade existe em pormenores freqüentes, nós é que deixamos de notá-la. Poxa, quer momento mais feliz do que estar lendo um livro. Um livro bom, né? Claro! Pois é! E quando ganhamos presentes? Sensacional!

Ocorre que às vezes nos falta mesmo o distanciamento necessário e fundamental para sacarmos: “olha, eu estou bem feliz agora” Geralmente notamos isso quando o efeito passou... Ficamos tão obstinados a ser feliz aqui e agora que não nos damos o tempo necessário nem pra felicidade que está no presente, nem pra que vai chegar...

Tocar minha guitarrinha também me deixa muito feliz. Só eu, as seis cordas e o amplificador e um momento mágico. Muitas vezes, só tenho meia hora, mas ainda assim é bem bacana.

A armadilha de querer a felicidade “aqui e agora” pode ser mesmo perversa. A frase “Paciência é uma virtude” é muito sábia.

Muitas vezes queremos tanto uma coisa que não conseguimos entender que não é a hora certa. A gente se apressa, acha que a felicidade está no bem ou na posse e só depois descobre que foi desnecessariamente apressado. Que não pode desfrutar aquele momento de felicidade simplesmente porque não esperou a oportunidade de vivenciá-lo por inteiro. De corpo, alma e pensamento. O que é um momento maravilhoso se você não estiver inteiramente imerso nele? Nada. Não vale a pena o esforço para um grande momento, se você já sabe que na hora “H” não estará em plena condição de vivenciá-lo.

E como trabalhar demais pra juntar dinheiro, pra ficar sem fazer nada. Pode ser uma armadilha. Quando chegar a hora de não fazer nada vai ter de se recuperar por ter trabalhado tanto... E o momento com a tal felicidade nem chega...

Ela existe, eu tenho certeza! E chega sempre nos momentos certos!

quarta-feira, julho 30, 2008

Nos supermercados da vida

Na primeira vez em que ouvi "Lost in the supermarket", do The Clash - veja o vídeo aí em cima, fiquei me perguntando por que uma banda com um som tão bacana como esse é rotulada como punk. A dúvida seguinte foi um pouco mais "existencial": como alguém pode ser perder num supermercado?

Não saquei de bate e pronto, mas depois percebi que é justamente na letra que está a veia punk...

Uma crítica ao consumismo desenfreado, àquela sensação de vazio (perdido?) que é falsamente preenchida com uma visita à loja mais próxima. Besteira. Antes mesmo de a máquina do cartão de crédito cuspir o canhoto já nos sentimos perdidos (vazios?) novamente. E quando a gente fica olhando pras prateleiras, com a absoluta certeza de que não quer nada do que ali está, mas não consegue se distanciar sem levar um item? Perdido no supermercado...

O mais impressionante é que a música figura no álbum London Calling, lançado em 14 de dezembro de 1979! Eu tinha só 3 anos de idade e “consumismo frenético” era expressão em começo de carreira, ainda. Isso não é punk, é visionário!

De qualquer forma, hoje entendo perfeitamente como é possível se sentir perdido num supermercado. Na verdade, o sujeito já havia se desencontrado antes de entrar no templo do consumo... E foi lá procurar-se...

Na verdade, pra se sentir perdido não precisa muito. Todos, em algum momento, perdem de vista a rosa dos ventos que lhes norteia.... Mas ela volta. Tem que voltar...

P.S.: Esse post é dedicado ao amigo Marcelo, que, além de reclamar de nunca ter sido mencionado nesse blog, me perguntou por esses dias por que o The Clash é tão importante pra música.

Perdas e ganhos



"Não se pode ter tudo" foi praticamente uma da primeiras frases que ouvi ontem, quando o dia ainda estava só começando. Falava sobre a constante necessidade de abrir mão de coisas preciosas para se ter o "direito" a outras. Sobre escolhas. As que fazemos e aquelas que fazem por nós... Nas quais somos, muitas vezes, meros coadjuvantes.

Com reflexões pesadas como essa, estava na cara que o dia não seria dos melhores... Pra variar.

As coisas que não andam como deveriam, que nos impelem à maldita cafeteira, como se o líquido ali presente fizesse o tempo passar mais rápido... Ou fosse uma poção de desaparecimento, o famoso "chá de sumiço", muitas vezes uma vontade real diante de tantas intempéries da vida.

O dia foi se desenrolando e mostrando que ainda reservas ganhos e perdas, não necessariamente nessa ordem... E se o tema matutino eram escolhas, tive de lembrar, ao final de um expediente pra lá de arrastado, que tinha feito a escolha de assistir - e reportar a cobertura para uma revista especializada - aos show de Joe Satriani.

Já falei dele aqui, eu acho. Se não, foi uma questão de escolha... Mas sempre há tempo para repará-las, então vamos lá...

O cara é simplesmente um dos melhores guitarristas de todos os tempos! E casa lotada, de garotos guitarristas, papais quarentões e suas esposas, e roqueiros e metaleiros de todas as idades prova isso.

As mazelas do maldito dia não cessaram nem com a chegada da noite. O excesso de compromissos me levou a chegar em cima da hora no show. Tá bom. Na verdade cheguei atrasado e perdi a entrada e a primeira música... Tudo bem... Não era um dia pra ganhos...

Satch conversou com o público através de sua guitarra Ibanez JS durante 1h45. Nos entendemos perfeitamente. "Supercolossal", "Always with me, always with you", "Time machine"... todas conhcidas e tocadas de maneira que não deixaram dúvida: o cara sabe o que faz. E o faz muito bem!

A linda "Crying" desse videozinho filmado de onde eu estava veio pra mostrar isso - não sabia que quando desse o zoom, o som seria cortado, mas vale a pena assistir. E também veio pra lavar a alma das gasturas da vida...

Tá ok, não se pode ter tudo, mas ainda bem que tenho meus ouvidos e coração, para poder apreciar momentos como esse, ainda que de curta duração.

Ao final, uma escapadela e a cortesia de uma amiga renderam até uma foto ao lado do ídolo. E fiquei meio anestesiado diante do cara, como se pode notar pelo sorriso mal construído... Mas foi um ganho, finalmente! Nada mal pra encerrar um dia, embora já passasse das 1h00 e portanto já fosse o dia seguinte, no caso, hoje...

Vejamos o que me reserva esse dia que começou com ganhos...



"Prazer em conhecê-lo" é uma frase idiota pra dizer a alguém que você conhece há 18 anos?

segunda-feira, julho 21, 2008

Ben harper, Sexual Healing

Então, quando fiz o blog, a idéia era mesmo usar a música como pano de fundo, mas não que ela fosse o mote principal.

Mas a quem eu queria enganar,né?

Agora à tarde, estava ouvindo Ben Harper e sua versão para Sexual Healing do mestre Marvin Gaye.

O melhor é não falar, e sim escutar.

Aliás, além da cura sexual certamente há a cura musical. Musical Healing.

WATCHMEN

É incrível como sempre carrego a sensação de ter chegado atrasado aos bons momentos da vida.
A música de que mais gosto teve sua decadência justamente no final da década de 80, exatamente quando eu atingia a idade de ouvi-la.
O jornalismo que adoro começou a sofrer, exatamente no final da década de 90, quando entrei na profissão, a perda da credibilidade e do romantismo das redações...

Mazelas do mundo moderno.
Passei por boas empresas, até multinacional do boom "pontocom", mas sempre quando estavam dando adeus aos seus melhores momentos ou prester a passar por crises.

Inacreditável.
E a sensação vai adiante. Por anos, a TV a Cabo era uma utopia. Ver Manhattan Conexion era um sonho distante. Arranjo uma namorada com o aparato em casa – claro que o namoro não teve nada a ver com a vontade de ver o Manhattan - e também já era tarde. Arnaldo Jabor ocupava o lugar de Paulo Francis, que era, na verdade, o motivo de eu querer assistir ao programa. Quando descobri Paulo Francis, ele morreu.

Outro dia, o mano Waltão me trouxe suas edições de Watchmen, o famoso HQ de Alan Moore, publicado em 12 edições limitadas que mudou a história dos quadrinhos. Comecei a gostar de quadrinhos nessa época, tinha uns 12 anos, e realmente não sobrava pra comprar um Graphic Novel de luxo, como eram os exemplares de Watchmen, carinhosamente emprestados pelo amigo. Pois é. Mais uma coisa que chegou bem tarde às minhas mãos. Ao final da leitura, não conseguia entender porque deixei pra isso pra depois. Me lembro vagamente de até ter tido acesso, mas inexplicavelmente, deixei passar. Essa foi vacilo, não azar.

Mas nem por isso, Watchmen deixou de me marcar. Simplesmente DU CARALHOl. Num clima de guerra fria, confrontos intercontinentais e pessoais, travados por humanos tão heróis que nem parecem humanos. E que são tão humanos, que nem parecem heróis. Fodástico!
E como às vezes a gente consegue se antecipar a algo, pelo menos posso dizer que li a obra antes de virar filme. Aliás, filme esse que é o verdadeiro motivo desse post.
A película, dirigida por Zack Snyder (de 300), tem estréia prevista para 6 de março de 2009. Anote essa data e vá se preparando... Tenho certeza que vai ser muito bom! Ah, não posso deixar de agradecer o mano pelo empréstimo das raridades! Valeu!

sexta-feira, julho 18, 2008

Kiss

Consegui um videozinho de uma das pérolas tocadas na noite de ontem. O cinegrafista não era dos melhores, mas o dia também não tava fácil...então...

Ah, não reparem na calça de palhaço, apesar de ela estar bem apropriada para encerrar o dia...


Rocky 3 Eye of the Tiger

Noutro dia falei aqui sobre Rocky Balboa e seu olho de tigre. Acabei sendo perguntado sobre o que realmente significa a expressão pra mim.

Um dia de merda como o ontem, foi o típico no qual o "olho de tigre" é fundamental.

Rede contaminada por vírus atrasando o trabalho, milhares de pequenas minúscias pra serem resolvidas, que, na hora "H" insistiam em não se deixar "dissolver".

Uma tarde de extrema estafa, daquelas em que realmente dá vontade de sentar na guia e chorar. Ou arrancar os cabelos. Ou os dois.

Tá. Ao pseudo "final de expediente", ainda tinha de ir a uma reunião importante, de ônibus, longe. E além de discutir o assunto com toda a seriedade que merecia, ainda não podia descuidar do relógio. Ia tocar às 22h e todo o grupo contava com minha presença.

A tarde vinha caindo e a cada quarto de hora era uma notícia mais bombástica que outra. Ao final do dia, completamente derrotado, tive de encontrar a força necessária para a segunda jornada.

Nessa hora, pensei novamente no "olho de tigre". Quando você toma as pancadas, algumas bem duras, e acaba caindo. Mas e aí? Ficar com a cara estatelada no asfalto, sentindo o fio de dignidade lhe fugir da alma, vai resolver o quê? Nada!

Você se levanta, se recompõe e segue em frente. O queixo vai doer. Às vezes, por muito tempo. Mas se não erguer a cabeça, treinar com afinco, vai cair novamente na próxima luta.

E, às vezes, as lutas são diárias. O consolo é que a dor no queixo vai ao menos servir pra você lembrar sempre quando foi que baixou a guarda e tomou aquele soco fatal.

Levantei, fui à reunião. Tudo resolvido. Fui tocar e foi DU CARALHO!

É isso. Olho de tigre sempre. E nada mais apropriado para uma banda que compõe "Eye of the tiger" do que ela se chamar Survivor!

quinta-feira, julho 17, 2008

Múltipla escolha


Você já teve vontade de ser outra coisa ou alguém? Há minutos, de guitarra em punho, estudando, desejei ser Satriani. Na verdade, não. Apenas que as mãos dele fossem as minhas. Tocando as notas certas...


Já quis ser super-herói, jogador - de futebol - , mochileiro, piloto - de carros - hacker - do bem. Pô, ser hacker de vez em quando deve ser bem legal... Astronauta...

Sem falar nos grandes caras. O Machado... Vá entender o caráter humano assim lá longe... Mas tem a criatividade do Rosa – inventar palavras deve ser divertido – e o bom humor do Garcia Marques. Caramba...

E fazendo música brasileira, hein? As rimas certeiras do Baleiro, a amargura relax do Kleber ou o existencialismo do Moska? Sem falar no charme esnobe do Caetano.

Ah, fazendo rock, nem tem o que pensar. As guitarradas do Eddie ou as harmonias do Page... Putz, mas tem o Gilmour, o Clapton, o Fripp... Ixi, a lista "Vai" até Z... Ah, não nos esqueçamos do Zappa.

Na pintura, tem Picasso – traços e nome fortes – e Basquiat, com suas cores perturbadas. Mas já quis até dar o abraço do Romero. E ver Gioconda antes de aplicar-lhe o enigmático sorriso...

O exercício é bem legal. Você imagina e curte. Só por instantes. Percebe que é você mesmo e volta pra sua insignificância de réles mortal... Coisa de minutos...

Até diverte, mas não afugenta a insônia.

Agora penso em dormir.

Ficar na cama, pelo menos oito horas... Tranquilão e relaxado. Pô, abraçado é ainda melhor.

Nessa noite, quero ser... Travesseiro!

segunda-feira, julho 14, 2008

Obrigado

Ainda falando em rock and roll, não posso deixar de dizer que Led Zeppelin é outro nome que vem à mente quando ouço essa palavra. Os caras foram perfeitos. Geniais. Até quando não faziam rock pesado. As harmonias intrincadas e elaboradas do guitarrista Jimmy Page e a voz aveludada e sensível de Robert Plant... Uma Banda com B maiúsculo!

Lírismo a serviço da emoção, a música "Thank you", gravada no Led Zeppelin II, de 1969, é um ótimo exemplo de que o rock é muito mais do que energia e guitarras distorcidas.

Aqui, vai a interpretação do Tesla para o clássico do Zep. A versão não só manteve o feeling que a canção pede, como transmite exaamente a sensibilidade da composição, em todos os detalhes.

Mais uma daquelas canções que me fazem pensar: gostaria de ter feito essa música!

É isso.

God gave rock and roll to you!

Dia 13 de julho é o dia mundial do rock! Sempre que ouço essa palavra logo me vem à mente uma guitarra, e, por consequência, Eddie Van Halen e sua frankenstein. O cara é o espíritio do rock! Jovialidade, criatividade, irreverência... Energia! Meu eterno herói da guitarra! É melhor nem descrever. Aperte o play aí no vídeo, aumente o volume e deixe rolar... Se tiver dúvida, deixe chegar no 2:19 e você vai me entender perfeitamente...

É isso!


sábado, julho 12, 2008

Dia Branco

Hoje é mesmo um Dia Branco. Fui lembrado disso assim que acordei.

E pensei em Geraldo Azevedo e sua sutileza.

Taí, sem a necessidade de maiores explicações.


sexta-feira, julho 11, 2008

Leis para os animais



A semana foi pontuada mesmo pela cretina lei seca. Em escritórios, transportes coletivos, nas praças, só se falou nisso. Não vou dizer nos bares, né, porque estes estiveram mesmo vazios!

Trata-se evidentemente de mais uma lei bizarra e não vamos aqui chover no molhado.

Não se trata de punir quem dirige bêbado. Essa lei proibe o consumo de bebidas sob um disfarce. O mais legal é que qualquer um pode ver isso. E o discurso hipócrita de dizer: "pergunte a quem teve um ente querido vítima de um motorista alcoolizado..." não cola.

O motorista que dirige bêbado é um transgressor. Sempre soube que não podia, mas sempre o fez. Agora, não vai mudar.

O inteligente seria realizar essa mesma quantidade de blitzen, simplesmente aplicando a lei que já existia. E melhor que isso. Mantendo-se o nível de álcool tolerado, aumentando-se a penalidade pra quem fosse pego fora da lei. Só isso.

A cretinece dessa lei me fez lembrar o indiano - da foto aí em cima - preso há 15 dias, porque levou um urso para ser animal de estimação de seu filho. Preso o pai e benfeitor, o urso ficou sem destino e a criança foi encaminhada para um orfanato. Fala sério? Até quando veremos punições esdrúxulas ou leis descabidas para a plebe, enquanto verdadeiros crimes hediondos são cometidos a olhos vistos pelos mais abstados sem a menor punição?

Nessa onda de idiotice penal, espero mesmo que aqui no Brasil não aconteça nada parecido com o indiano preso com o urso... Se não, olha isso:

segunda-feira, julho 07, 2008

Under the milkway


Adoro naves espaciais e estrelas. Desde de criança. Lembro-me perfeitamente de uma noite de 1986, quando eu tinha 10 anos de idade e meu pai chegou em casa eufórico, com os olhos brilhando e um presente embaixo do braço, louco pra me mostrar. “Esse é o álbum de figurinhas do cometa Halley”, disse.


Até então, cometa pra mim era apenas uma palavra na música do Balão Mágico, lembra? “Pegar carona nessa cauda de cometa/Ver a Via Láctea/Estava tão bonita/Brincar de esconde-esconde numa nebulosa/Voltar pra casa nosso lindo Balão Azul”.

Nebulosa também era uma palavra, digamos, nebulosa pra mim. Nem o Guilherme Arantes, autor da música, eu conhecia ainda, eu acho.

Aquele álbum mudou minha maneira de ver o mundo. Além de passar a saber o significado das palavras cometa e nebulosa, eu realmente compreendi o conceito de imensidão, se é que isso é possível...

A empolgação do meu pai em completar nosso álbum era grande. Todos os dias chegava do trabalho com novos envelopes e em pouco tempo, completamos tudo. Não faltou nenhuma.

As fotografias do espaço, as imagens de satélites e as perspectivas de planetas me encantavam. Passava horas, à noite, olhando várias vezes, página por página, depois de colar as novas figurinhas.

O álbum fazia parte de uma série de artigos lançados por ocasião da passagem do cometa Halley. “Ele passa a cada 76 anos”, dizia meu pai. “Temos de vê-lo ou pode não haver outra oportunidade.”

Na minha cabeça eu fazia as contas e concluía que aos 86 anos, na próxima passagem, em 2062, viveríamos novamente aqueles momentos mágicos.

Pois é. O cometa passou e em São Paulo pouca gente conseguiu vê-lo.

Nós não estávamos entre elas. E eu não me importei. Mesmo sem olhar diretamente para o Halley, sei que aquele cometa iluminou minha vida. Eu te amo, pai!

P.S.: ainda tenho o álbum guardado

Pela boca


Como o saldo do fim de semana foi uma quase desidratação, esse post está sendo escrito, às 2h00 da manhã, acompanhado de um drinque muito diferente: Rehidrat 50, sabor laranja. Foi o que o médico passou, depois de me mandar um soro na veia e pedir cuidados com a alimentação...

Bem, o post escrito na madrugada nem é um caso de insônia. É que depois de assistir a um filminho, lavar a louça - me esperava desde sexta! - e finalmente me preparar para ir pra cama, me lembrei do tal "drinque". E não podia dormir sem ele. Como também não podia dormir sem postar...já viu, né?

Nos preparativos pra dormir comecei também a digerir - palavra cuidadosamente escolhida - o conselho do médico: "A gente põe cada coisa na boca". E automaticamente me lembrei do meu dentista, visitado na semana passada.

Só comemorações. Depois de um ano sem dar as caras, nenhuma cárie, apenas um pouco de tártaro, sagazmente removido com um torturante ultrassom que, inexplicavelmente, trabalha na freqüência de ressonância do meu cérebro. Fatalmente reclamo e ouço: "Se você usar o fio dental com mais capricho, nem esse tártaro vai ter."

Pois é. O drinque acabou. Vou passar o fio dental...

Boa noite.

quinta-feira, julho 03, 2008

Olho de tigre - de Freyre a Stallone...



É uma questão de raça. Não do termo pejorativo ou do que se refere às espécies. Raça com significado de gana. Sabe? De determinação e força de vontade. Vendo o comportamento do Fluminense na hora dos pênaltis, na decisão contra o LDU, do Equador, dá pra entender bem o que quis dizer Gilberto Freyre com seu Casa Grande & Senzala. A obra traça o perfil do brasileiro, do ponto de vista cultural e comportamental, explicando pela miscigenação que o que é resultado direto da absorção dos costumes da casa-grande e das mazelas da senzala.

Genial que era Freyre também falou desses traços no futebol. Da pra ver aqui ó: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/alabarces/PII-Soares.pdf

A leveza e a alegria, é óbvio dizer, vieram mesmo da parte africana de nossas raízes. Mas por quê não herdamos também a gana? Nem é preciso fazer muito esforço para identificar a palavra com o continente de origem dos escravos. Tem até país com esse nome lá!

Porra, é difícil ter um pouco mais de gana? Não é a primeira vez que vemos o que aconteceu ontem no Maracanã! Jogar como jogou, pra cobrar pênaltis daquele jeito? Faça-me o favor.

No meio da história me vem à mente outro célebre escritor. Euclides da Cunha dizia em seu Os Sertões: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Fiquei pensando no futebol dos sertanejos equatorianos...
Francamente, se você disser que vai atravessar uma piscina de 50 metros e desistir nos dois metros finais, é melhor que nem mergulhe.
Ao final do jogo, Dodô, escalado para a última cobrança e que nem teve a chance de perder também o seu, ainda me sai com a pérola: “Jogamos como pudemos. Mas aí foi pros pênaltis e pênalti é fogo, né?”
Pois é, meu caro, para os jogadores do LDU, não me pareceu tão difícil bater direito um pênalti...
Nessas horas, é sempre bom lembrar a perseverança de Rock Balboa: olho de tigre, cara!


"CADIQUE"



A ficção-científica é por vez considerada um gênero menor na literatura. Descordo completamente.

Nessa semana, acabei de ler o “Caçador de andróides”, do mestre Philip K. Dick. O livro, na verdade chamado “Do Androids dream of electric sheep?”, algo como “Os andróides sonham com ovelhas elétricas?”, ganhou o novo nome depois que foi filmado por Ridley Scott, de 1982, com Harrison Ford no papel do “retirador de andróides”.

Nunca vi motivos para considerar menores escritores de sci fi. Quem já leu Arthur C. Clarke (“2001: Uma odisséia no espaço”) ou Isaac Asimov (“Eu, robô”) sabe que o gênero pode trazer ao leitor tudo o que um bom romance tem. O “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e o 1984, de George Orwell, nem precisam ser citados...

E o que dizer de K. Dick? Veja filmes como “Minority Report”, com Tom Cruise, e “Total Reccall”, com Arnold Schwarzernegger – aqui, traduzido como o Vingador do Futuro – ou “O Pagamento”, com Ben Afleck.

“O Homem duplo”, com Keanu Reeves e Robert Downey Jr., foi praticamente a última história do autor a ser filmada e juntamente com a notícia da reedição do filme de Ridley Scott, me incentivou a ler o livro. Agora posso asssitir ao filme sossegado, embora tenha certeza que a versão em papel seja muito superior.

As angústias, as paranóias, o apego à vida e a eterna melancolia, sempre esperando por serem libertadas na mente humana, são mostrados de maneira muito clara. Paranóico de carteirinha, K. Dick os conhecia por dentro, literalmente. E mostrou em palavras, nos mais de 40 livros e contos, tudo o que sentia. Um grnade escritor, sem dúvida, de um gênero não menor, mas "pré-conceituado".

É só tirar por base a cena do encontro de um “suposto andróide” com um famoso quadro, numa galeria de arte, anos à frente de nosso tempo:


“Junto a um quadro a óleo, Phil Resch parou e olhou com atenção. A pintura mostrava uma criatura careca e mãos colocadas com pavor nas orelhas, a boca aberta em um grito amplo e sem som. Ondas retorcidas do tormento da criatura, ecos de seu grito, inundavam o ar que a cercava; o homem ou mulher, o que quer que fosse, tinha se tornado contido por seu próprio berro. Cobria as orelhas contra o próprio som. A criatura estava parada em uma ponte e não havia mais ninguém presente; a criatura gritava sozinha. Isolada por seu grito ou apesar dele. “Acho que é assim que um dróide deve se sentir, disse Phil Resch.”


Literalmente fantástico, não?

terça-feira, julho 01, 2008

Afirmações de negativas


Não é porque não respondo, que não ouço;
Não é porque não comento, que não vejo;
Não é porque não sinto, que não sinto.

Um último concerto


Na outra semana confessei-me impressionado diante da figura do Maestro John Neschling, à frente da Orquestra Sinfônica de São Paulo, por ocasião da passagem do príncipe herdeiro do Japão por aqui.

No post mencionei que fiquei – em menor grau, é verdade – impressionado com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua senhora Dona Ruth Cardoso.

Foi mesmo uma apresentação tocante. E memorável para a mente e para o coração.

Neschling estava, na verdade, fazendo seu último concerto antes de entregar a carta de demissão do comando da orquestra – que diga-se de passagem, dirigia desde 1977, um ano depois do meu nascimento! Será que tinha durante o concerto a carta na mente?

Dona Ruth também estava em seu último concerto. Sentiu-se mal e nem voltou para a segunda parte do espetáculo. Alguns dias depois, faleceu, vítima do próprio coração. Será que tinha durante o concerto a morte no coração?

Se me perguntassem qual o último espetáculo que queria ver na vida podia mesmo assistir à reprise daquele dia. Um concerto digno de fechar com chave de ouro momentos de uma vida.

A passagem do maestro no comando daquela batuta. A passagem da nobre Ruth por sua nobre e serena vida.

Uma constatação:

“Por que as pessoas que me impressionaram nos últimos tempos estão indo embora?