terça-feira, novembro 25, 2008

Matriarca


Hoje é o aniversário da mamãe! Creuza, com eu a chamo. Aliás, é o nome dela... Tenho passado os últimos dias em boa companhia lendo "O amor nos tempos do Cólera", de Gabriel Garcia Maques. Ontem me peguei analisando o livro e lembrando do famoso "Cem anos de solidão", obra mais famosa do mesmo escritor. O que estou lendo agora me parece melhor, mas lembrar do "Cem anos..." foi bem bom. Imediatamente me veio à mente a imagem da matriarca Ursula. Grande mulher. Vivida. Forte e inabalável diante das (bem) duras pancadas da vida em Macondo.
Quando li, há muito tempo, pensei até se Garcia Marques conhecia minha mãe. A Creusa é a Ursula da vida real. Uma mulher com determinação gigante e coração do mesmo tamanho.
A determinação nela é bem peculiar. Para algumas coisas, deixa que aconteçam a 'esmo', sem fazer esforço... Mas pra outras. Botou na cabeça no meio dos anos 80 que teria uma casa própria e sairia do aluguel. Vi essa mulher mover o mundo. Entrou em movimentos populares, foi às ruas, lutou, invadiu, defendeu, acusou. Pra mim, uma nova mulher, bem diferente da dona de casa que eu conhecia até então... No começo dos anos 90 ela conseguiu a tal casa. Mora lá até hoje e quando fala do lar, tem um brilho no olhar. A aproximação dos movimentos populares lhe deu gosto e novo sabor à vida. Descobriu, aos 40, que tinha muito que fazer pelas comunidades ao seu redor. Os últimos 15 anos foram todos de dedicação a isso. Eu, confesso, enquanto morava lá, às vezes me sentia preterido aos de fora. A Creuza pegava parte da cesta básica que eu ganhava no emprego fuleiro e ainda dividia com pobres. No começo, me sentia injustiçado e chegava a comentar. Me ensinou, pela atitude, que ajudar a quem tem menos é o mínimo que podemos fazer.
A sergipana que chegou em São Paulo nos anos 70 sem ter concluído o ginásio resolveu depois de ser mãe de família e dedicada esposa, que seria mais isso. Seria alguém na vida de outros. Resolveu estudar e levava tão a sério na época que eu ficava com verganha da minha preguiça em pegar nos cadernos... Começou desenvolver trabalhos voluntários de pedagogia e assistência social. Hoje, ganha a vida com isso. Vive com o Cidão, meu pai, e está muito feliz. Quem a viu nos meus tempos de meninos, como dona de casa, e a vê hoje tem a certeza de que a Creuza cresceu absurdamente com a vida. Aproveitou cada brecha e lutou pra ter sua importância no mundo em que vivemos. Não há eleição em São Paulo sem que candidatos disputem a preferência da Creuza e seu apoio. Além da infuência na comunidade, ela trabalha. E trabalha duro. Já falei pra parar com isso... Mas a cada dia me convenço de que isso é o que a mantém feliz. Tomou muita pancada da vida e nunca desistiu.
Ela diz que completa 56 anos. O Cido, meu pai, jura que ela é "gato". Pela cédula de identidade ela faz é 58, mas jura de pé junto que o registro com data retroativa foi um recurso para poder trabalhar mais cedo e ajudar no sustento dos outros 11 irmãos lá em Sergipe. Pois é...a mulher pegou pesado no batente desde cedo. E dizem mesmo que o trabalho enobrece, né? A Creuza é uma mulher nobre. Uma grande mulher que me ensinou a lutar e não desistir mesmo quando tudo parece bem dificil.
Parabéns, mãe! Te amo e admiro muito!

Na foto, a Creuza aparece com as três coisas que ela mais ama nessa vida: o Cidão e as netinhas Duda e Sofia.

Um comentário:

Dia disse...

O texto (muito interessante, assim como os outros) só confirma que mães são imprescindíveis. Seja qual for seu modo de agir. A minha sempre foi presente. E ela é o que tenho de mais importante. Chego a ser repetitiva. Mas vejo qualidades que na minha vi muito tb. A dedicação às pessoas estranhas, que pra nós filhos, às vezes, soa como dividir a nossa 'merecida' atenção. Porém, dedicar amor e tempo aos seus qualquer um pode fazer. Já amar os desconhecidos e fazer algo por eles é nobre. Vc deve ter orgulho da mãe que tem! Eu já a admiro! Parabéns Creuza. Lição de vida!