sexta-feira, junho 05, 2009
Encontros e desencontros
Sabe quando você já intui que vai gostar de um livro só pelo título ou pelo autor? Pois foi isso o que aconteceu quando ouvi pela primeira vez o nome de Milton Hatoum. O premiado autor amazonense surgiu há mais de um ano numa conversa com uma amiga jornalista e conterrânea de Hatoum. Na época, dei uma pesquisada nos trabalhos do escritor e só confirmei a certeza de que ia gostar dos livros dele.
A fila imensa de leituras só me permitiu ter contato com Dois Irmãos - segundo livro do autor - agora. E como eu tinha previsto: arrebatador! Outros entraram na fila, mas assim que possível vou ler "Relato de um certo oriente", o primeiro do manauara, escrito 10 anos antes de Dois Irmãos.
Arquiteto de formação, professor de literatura francesa em Manaus e de literatura portuguesa na Califórnia, no EUA, Milton tem credenciais que instigam qualquer fã de literatura.
Em Dois irmãos apresenta um estilo invejável e revela certa garimpagem na escolha das palavras. Um livro muito interessante, que prende o leitor como só grandes nomes da literatura sabem fazer.
Ainda ontem, li uma entrevista de Luis Fernando Verissimo, na qual o autor admitia não ser 'preso' às regras gramática. Mais que isso, assumia não dominar o assunto e que 'não sabe utilizar corretamente o verbo haver'. A tarefa realmente não é fácil e esse mea culpa de um nome tão significativo na literatura portuguesa evidencia isso.
Pois bem, entre as qualidades de Hatoum que me chamaram atenção ao término de Dois Irmãos está justamente o domínio da língua. A escolha perfeita de palavras para a construção de cenas memoráveis, com maestria.
E às vezes parece até esnobe, quando usa, por exemplo, o famigerado verbo haver de maneira divina. Olha o trecho:
" (...) Muitos objetos estavam destroçados. Haviam sobrado o pequeno altar, o narguilé e a cirstaleira. Havia pedações de espelho e moldura sobre o o sofá cinzento. (...)"
Estive em Manaus recentemente, numa viagem estilo 'mochila nas costas e vamos conhecer um lugar diferente'. Gostei muito da cidade e da 'viagem para me encontrar'. Um estilo de vida totalmente diferente da Sampa onde vivo, que me mostrou (nais) sobre as diferenças e as aceitações. Fiquei devendo um post sobre a viagem, mas não deu tempo. Posso fazê-lo qualquer hora...
Mas citei esse passeio porque na volta, no aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus, conheci o Milton Hatoum. Pegamos o mesmo vôo para São Paulo. Na ocasião ainda não tinha lido nenhum romance dele. Dois Irmãos estava na fila, mas eu já tinha passado a vista numa série de crônicas - ele escreve no Estadão (indisponível) e no Terra (aqui ó: http://terramagazine.terra.com.br/ultimas/0,,EI6619-SUM,00.html)
O papo foi rápido, mas bem bom. Simpático e disposto, me tratou superbem e ainda adiantou sobre o lançamento do novo trabalho (já está nas livrarias com o nome de "A cidade ilhada").
Foi um incentivo a mais para ler o livro, que indico para qualquer pessoa. Até àquelas que torcem o nariz para escritores brasileiros e para autores 'não-clássicos'. É memorável e inspirador.
Pretendo ler os outros trabalhos de Milton e num próximo encontro terei mais assunto. Aliás, os e-mails que trocamos depois da conversa no aeroporto tiveram o singelo título de "Encontros e desencontros". Tudo a ver com o tema de Dois Irmãos...
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Um comentário:
Milton Hatoum é fera. Não é à toa que já li os cinco livros dele e tenho todos autografados.
=D
Beijo
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