quinta-feira, julho 03, 2008

"CADIQUE"



A ficção-científica é por vez considerada um gênero menor na literatura. Descordo completamente.

Nessa semana, acabei de ler o “Caçador de andróides”, do mestre Philip K. Dick. O livro, na verdade chamado “Do Androids dream of electric sheep?”, algo como “Os andróides sonham com ovelhas elétricas?”, ganhou o novo nome depois que foi filmado por Ridley Scott, de 1982, com Harrison Ford no papel do “retirador de andróides”.

Nunca vi motivos para considerar menores escritores de sci fi. Quem já leu Arthur C. Clarke (“2001: Uma odisséia no espaço”) ou Isaac Asimov (“Eu, robô”) sabe que o gênero pode trazer ao leitor tudo o que um bom romance tem. O “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e o 1984, de George Orwell, nem precisam ser citados...

E o que dizer de K. Dick? Veja filmes como “Minority Report”, com Tom Cruise, e “Total Reccall”, com Arnold Schwarzernegger – aqui, traduzido como o Vingador do Futuro – ou “O Pagamento”, com Ben Afleck.

“O Homem duplo”, com Keanu Reeves e Robert Downey Jr., foi praticamente a última história do autor a ser filmada e juntamente com a notícia da reedição do filme de Ridley Scott, me incentivou a ler o livro. Agora posso asssitir ao filme sossegado, embora tenha certeza que a versão em papel seja muito superior.

As angústias, as paranóias, o apego à vida e a eterna melancolia, sempre esperando por serem libertadas na mente humana, são mostrados de maneira muito clara. Paranóico de carteirinha, K. Dick os conhecia por dentro, literalmente. E mostrou em palavras, nos mais de 40 livros e contos, tudo o que sentia. Um grnade escritor, sem dúvida, de um gênero não menor, mas "pré-conceituado".

É só tirar por base a cena do encontro de um “suposto andróide” com um famoso quadro, numa galeria de arte, anos à frente de nosso tempo:


“Junto a um quadro a óleo, Phil Resch parou e olhou com atenção. A pintura mostrava uma criatura careca e mãos colocadas com pavor nas orelhas, a boca aberta em um grito amplo e sem som. Ondas retorcidas do tormento da criatura, ecos de seu grito, inundavam o ar que a cercava; o homem ou mulher, o que quer que fosse, tinha se tornado contido por seu próprio berro. Cobria as orelhas contra o próprio som. A criatura estava parada em uma ponte e não havia mais ninguém presente; a criatura gritava sozinha. Isolada por seu grito ou apesar dele. “Acho que é assim que um dróide deve se sentir, disse Phil Resch.”


Literalmente fantástico, não?

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