
Bem-vinda, amiga insônia!
Por que não nos encontramos pela manhã?
Conheci Caetano Veloso pela música “Terra”, da abertura do programa sobre ecologia da TV Cultura. Já naquela época, começo da adolescência, 1989 pra ser mais exato, meu pai era fã do programa e cansei de passar tardes de domingo esperando pela voz de Caetano Veloso e seu violão dedilhado que me encantavam. “Terra! Terra!/ Por mais distante/O errante navegante/Quem jamais te esqueceria?
Um pouquinho depois pintou o primeiro toca-discos da minha vida. Uma aquisição inesquecível, somente comparável à compra do LP “Bicho”, meu primeiro Caetano. Nele nem estava a canção tema do programa da Cultura, mas havia uma música que eu tinha ouvido pelo menos uma vez. E tinha ficado encantado. Era a mais perfeita descrição da paixão que já ouvi: “Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel/Uma mulher, uma beleza que me aconteceu”
Aquilo era fantástico e eu não teria paz enquanto não adquirisse aquele disco. O cara tem de saber muito sobre a paixão para defini-la com tanta exatidão, pensava...
Mas o que sabia eu da paixão naquela época? Sei lá... Mas algo me dizia isso. E mais. Me dizia que o genial baiano tinha acertado na mosca. Unhas negras, íris cor de mel. Perigosa como uma tigresa.
O disco – se você não conhece, tá aqui ó: http://www.badongo.com/file/10138447 – não era propriamente chamativo para um garoto que adentrava no universo roqueiro. O nome “Bicho” e a capa com uma borboleta ou uma maçã partida ao meio - pecado - eram ainda menos empolgantes nessas circunstâncias.
Ao primeiro contato da agulha com o vinil tive certeza que fizera a coisa certa. O contrabaixo suingado e seguido pelos versos de Odara. “Deixa eu dançar pro meu corpo ficar Odara/Minha cara minha cuca ficar Odara”
Uma celebração ao canto. E o disco segue magnífico, celebrando a deusa música como no versos de “Alguém cantando” (“Alguém cantando muito/Alguém cantando bem/
Alguém cantando é bom de se ouvir”). Na alegre e – não sei por que – nostálgica “Gente”, com suas referências de nomes da época, assim como no refrão da famosa “Um índio” (“Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi/Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi/Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi/O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá que eu vi”)
Um discão! Até a versão de “Olha o menino”, de Jorge Ben, apesar de não contar com o suingue do carioca inventor do samba-rock me encantava. “Eu sou um homem sincero/
Porque nasci cresci e vivo livre/Eu sou um homem sincero/Que quero morrer nascer e viver livre/Olha o menino ui. Pirava com a coragem de dizer uma frase dessas em plena ditadura militar, em 1977, quando “Bicho” foi gravado. E isso me impressionava mesmo ouvindo quase 13 anos depois, já sem ditadura, mas ainda com homens querendo morrer e nascer livres...
Mas “Tigresa” era mesmo especial. Mexia com o jovem garoto que eu era. Com sua tristeza eterna, o violão peculiar seguido depois por um baixo marcante. E os violinos com piano ao final? Aff...era de querer chorar. De sentir dor sem motivo.
“Esfregando a pele de ouro marrom/Do seu corpo contra o meu/Me falou que o mal é bom e o bem cruel”
A expressão “pele de ouro marron” não me era clara. Não conhecia a paixão...
E também não entendia ao certo o que Caetano queria dizer com “Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar/Porque ela vai ser o que quis inventando um lugar/
Onde a gente e a natureza feliz, vivam sempre em comunhão”
Mas sabia que ele estava certo. Principalmente porque ao final ele dizia: “As garras da felina me marcaram o coração/Mas as besteiras de menina que ela disse não/E eu corri pra o violão num lamento/E a manhã nasceu azul/Como é bom poder tocar um instrumento”
Conheci a paixão. E Caetano estava certo.
Como é bom poder tocar um instrumento...
Acho que não.
Muito embora o domingo tenha sido de vitória dupla.
Não pude acompanhar a parte final da corrida, mas consegui assistir ao momento da misteriosa quebra de Kimi Raikkonen e da chegada de Massa à liderança. Tive de sair e só após na hora do almoço soube do resultado. Alguns, exageradamente afoitos – Alô, Galvão –, começam a se perguntar: pintou um campeão?
A vitória de Massa, não quero ser injusto, me pareceu um misto de muita competência com um pouco de sorte.
No final da tarde, me sento à frente da TV para ver o Palmeiras. Ainda na hora do almoço, a manchete do JT já preconizava: "Com salário atrasado, Palmeiras pega o Vasco". Relevei. O mano Vitor Marques, que certamente estava por trás de um título desses, é curintiano que eu sei...
Em campo, a academia passou longe de algo digno de ser assim chamado. O Vasco praticamente não entrou em campo e foi um típico jogo ruim, de dar “calo no zóio”. Tava quase querendo o Edmundo em campo e um pênalti a favor do Vasco. Uma defesa do Marcos já seria algo algo comemorável... Eis que Alex Mineiro aparece em campo, depois de vários minutos e mexe no placar. O gol do Kleber foi bem mais articulado, mas também não convenceu. O Vasco, como já disse, praticamente não estava em campo. Ainda falta o Palmeiras, um dos cotados para o título, provar a que veio nesse ano.
Se ainda é cedo pra acreditar no Massa, e olha que ele tem talento e força de vontade, que se dirá do meu Verdão? Que a vitória contra o Vasco foi um misto de pouca competência e muita sorte...
Na terça-feira (dia 17/6), por ocasião do centenário da imigração japonesa no Brasil, recebemos a visita do príncipe herdeiro do Japão, Naruhito.
Entre os vários lugares que visitou, Naruhito foi presenteado com um concerto da OSESP, a Orquestra Sinfônica de São Paulo, na Sala São Paulo (www.salasaopaulo.art.br/salasp/historia/historia.aspx), no prédio da Estação Julio Prestes, região do bairro da Luz.
Eis que a Honda, patrocinadora do concerto para o príncipe herdeiro me oferece o convite de conhecer a Sala São Paulo (vontade protelada por anos) e mais que isso: assistir à OSESP, na ocasião, regida pelo maestro John Neschling.
Cabelo cortado especialmente para a ocasião, terno alinhado e gravata em volta do pescoço lá fui eu, na quinta-feira (19/6) para uma grande noite.
Pois bem. Respiro música 24 horas por dia. MÚSICA, assim em maiúsculo, pra ficar melhor. Toda ela. MPB, rock, folk, heavy metal, jazz. Até a clássica, tão distante de nosso tempo. Mas da erudita não conheço muito. Só os grandes nomes e suas principais obras. Mas gosto.
O fato é que a sua relação com a música, seja ela qual for, nunca mais é a mesma depois de um espetáculo como esse. ESPETÁCULO, assim em maiúsculo, pra combinar melhor.
A interatividade de cada músico com seu instrumento. Uma relação passional. Íntima. Verdadeira. O local para eu estar sentado não poderia ser melhor: no coro. Às costas da orquestra e de frente para a figura do maestro.
E que figura! Já em sua entrada, praticamente “Exige” as palmas de todos, inclusive dos músicos da orquestra, em pé. E isso depois te todos terem aplaudido o príncipe japonês e até o último casal “real” brasileiro: Fernando Henrique Cardoso, atual presidente da Fundação OSESP, e dona Ruth Cardoso.
O programa da noite era composto de duas obras: Johannes Brahms Concerto nº 2 para Piano em Si b maior, Op.83, que contou com o solista Joaquín Achúcarro, ao piano, e a
Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky.
Confesso: não conhecia essas obras. E isso não interferiu em absolutamente nada no sentido de me emocionar. Acredite. Essa é uma das magias da coisa.
Só a afinação dos instrumentos, antes da execução dos hinos nacionais de Japão e Brasil, nessa ordem, já me comoveu.
Ao final, nem a presença de um membro da realeza japonesa, nem dona Ruth e o erudito FHC, nada disso me marcou tanto quanto o maestro John Neschling. Nem o solista espanhol Joaquín Achúcarro e seu virtuosismo ao piano. O maestro, absoluto, detentor da batuta, do andamento e do sucesso de todo o concerto. Realmente me emocionei.
É também impossível assistir à interpretação de uma orquestra, e não pensar no compositor da obra. Cada detalhe, cada nuance, notas incidentais, variações de intensidade. Tudo milimétrica e emocionalmente pensado, e geralmente sem o uso de um instrumento sequer. Só caneta e papel pautado. E sentimento.
E os instrumentos? Timbres magníficos, sem eletricidade, sem equalização. Só a acústica pensada na sua construção, as horas de estudo do instrumentista e as divinas notas em seqüência na partitura.
Num momento desse você entende por que a música erudita atravessa os séculos e por que foi tão revolucionária ao tempo em que foi criada: ela continua moderna, insubstituível e, principalmente, emocionante!