Na primeira vez em que ouvi "Lost in the supermarket", do The Clash - veja o vídeo aí em cima, fiquei me perguntando por que uma banda com um som tão bacana como esse é rotulada como punk. A dúvida seguinte foi um pouco mais "existencial": como alguém pode ser perder num supermercado?
Não saquei de bate e pronto, mas depois percebi que é justamente na letra que está a veia punk...
Uma crítica ao consumismo desenfreado, àquela sensação de vazio (perdido?) que é falsamente preenchida com uma visita à loja mais próxima. Besteira. Antes mesmo de a máquina do cartão de crédito cuspir o canhoto já nos sentimos perdidos (vazios?) novamente. E quando a gente fica olhando pras prateleiras, com a absoluta certeza de que não quer nada do que ali está, mas não consegue se distanciar sem levar um item? Perdido no supermercado...
O mais impressionante é que a música figura no álbum London Calling, lançado em 14 de dezembro de 1979! Eu tinha só 3 anos de idade e “consumismo frenético” era expressão em começo de carreira, ainda. Isso não é punk, é visionário!
De qualquer forma, hoje entendo perfeitamente como é possível se sentir perdido num supermercado. Na verdade, o sujeito já havia se desencontrado antes de entrar no templo do consumo... E foi lá procurar-se...
Na verdade, pra se sentir perdido não precisa muito. Todos, em algum momento, perdem de vista a rosa dos ventos que lhes norteia.... Mas ela volta. Tem que voltar...
P.S.: Esse post é dedicado ao amigo Marcelo, que, além de reclamar de nunca ter sido mencionado nesse blog, me perguntou por esses dias por que o The Clash é tão importante pra música.
Um comentário:
é isso...
muito bom o que escreve, inteligente num mar de burrice
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