quarta-feira, dezembro 03, 2008

Da arte de (se) relacionar


Tenho dedicado bastante tempo de meus pensamentos de astronauta solitário para entender as relação humanas. Relacionar-se com o outro é, definitivamente, a tarefa mais difícil nesse planeta. Noutro dia falava com um conhecido sobre isso. Trabalhei com ele na mesma redação há tempos. Uns 3 anos atrás, mais ou menos. E me lembrava que o cara era casado, apesar da pouca idade. Papo vai, papo vem e perguntei da esposa. Ele respondeu que tinha se separado. "Não dava certo. Era muito bom em alguns pontos, mas em outros não teve jeito", ele comentou. "Relacionamentos são difícies", eu disse, sem querer entrar em intimidades e nem dizer um "sinto muito", que, de fato, não sentia. Se alguém tinha de sentir era ele... "No meu outro casamento era o contrário. O que era bom nesse último era ruim lá. Em compensação o que era bom lá era justamente o ruim daqui", complementou. "Pois é. Relacionamentos são difíceis", tive de repetir. Não só pela falta de coisa melhor pra dizer, mas pela constatação do fato. Relacionamentos são difícies. Pra caralho. E não falo aqui somente dos amorosos. Falo de todos. Porque os problemas de relacionamentos partem de um mesmo ponto: cada um é responsável por 50% da decisão apenas. O resultado da interação entre você e o outro, seja ele sua mulher, sua namorada, seu amigo, seu patrão, afeta você diretamente. Entretanto, você só tem o domínio sobre metade das causas desse resultado.
Boa parte de nossas frustrações vem justamente de esperarmos que o outro tenha a mesma reação ou pense como nós diante do mesma questão. Geralmente, não acontece assim. E simplesmente porque é outra pessoa, outra cabeça, outra mente. Outra maneira de reagir diante da mesma situação. Sem contar o fato de que essas interações acontecem simultaneamente e a todo momento.
Ontem, diante dessas frustrações, resolvi dar um tempo e parar de pensar no problema. Desci pra tomar um café - até fumei um cigarro depois de muuuuito tempo..., brinquei um pouco com um texto particular e resolvi papear no msn com amigão.

"E aí, meu velho?"
"Fala cara, tudo bom? Acabei de ser demitido"

Porra, o que se pode dizer pra um grande amigo numa hora dessas, além de um CARALHO em letras maiúsculas - ou 'caixa alta', pra não sair do jargão da profissão? Eu pedi a ele um currículo e comecei a acionar alguns conhecidos pra amenizar o problema. E enquanto fazia isso pensava comigo: a boa e velha interação com o outro agindo novamente. No caso, o outro foi o patrão. Você pode trabalhar, ser competente e querer o melhor para sua empresa. Se o patrão achar que você tem de ser demitido, você o será. Mesmo que não queira. Simplesmente porque você não tem o poder sobre essa decisão. O patrão tem. Há decisões sobre as quais você tem o poder e o patrão não. Nesse caso, a competencia é do patrão. Ponto.

Passei o restinho do dia tentando arranjar um trampo pro amigo e me conformando com minha falta de poder sobre as decisões dos outros em minha vida. As minhas decisões eu tomo. E banco. Nas dos outros posso, no máximo, opinar. E ainda assim, se solicitado, né?

Nessa manhã recebo o chamado no msn do baixista da minha banda, com a (certa pra ele) decisão de deixar o grupo. Porra, novamente me vi diante da grande questão. Que merda, não quero isso. Quero seguir com o conjunto, ainda mais agora que estava ficando bacana. Mas não é uma decisão minha. A minha eu tomei, que foi montar o grupo. A dele, ele tomou, que foi deixar o grupo. Apesar de a dele me afetar direta e 'nocauteantemente' não tenho o que fazer. Não tenho poder sobre as escolhas dos outros. Gostaria de ter, às vezes, mas não tenho.

Relacionamentos são mesmo difíceis.

2 comentários:

Walter Junior disse...

Cara, isso me fez refletir: Vou sair da banda! :-)

Astronauta Solitário disse...

Essa decisão é sua. Não tenho poder sobre ela! :-)